sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Usando o PDCA para solucionar problemas - 1ª Parte


Historia


Neste novo post estarei “fatiando” o tema, pois o assunto além de ser complexo é exercitado de formas diferentes para a sua aplicabilidade. A ótica apresentada aqui não é apenas particular e sim um estudo e muita aplicação da metodologia.

A Historia

PDCA já é um senhor com um pouco mais de 70 anos, provavelmente é o mais conhecido conceito da gestão da qualidade.

Mesmo pessoas leigas costumam conhecer as quatro etapas básicas que ficaram famosas após sua introdução no Japão pós guerra e daí passou a ganhar o mundo. No ano passado o ciclo PDCA completou 70 anos desde a primeira vez em que foi apresentada na literatura. Mas os elementos que o inspiraram antecedem essa data.

Antecedentes do PDCA

Como muitos sabem, a origem do PDCA se deu a partir do ciclo de ShewhartWalter Andrew Shewhart (New Canton, 18 de março de 1891 — 11 de março de 1967) foi um físico, engenheiro e estatístico, conhecido como o "pai do controle estatístico de qualidade". Criador do CEP, da carta de controle para média (famosa Xbar) o seu trabalho está sumarizado no livro Economic Control of Quality of Manufactured Product, publicado em 1931.

Os fragmentos que deu origem ao PDCA se desenvolveu ao longo de, pelo menos, 300 anos de pensamento filosófico. Desde o periodo conhecido como a revolução cientifica, no século XVII, os pensadores europeus, como Copérnico, Kepler, Telésio e Da Vinci, já se indagavam sobre a melhor maneira de desenvolver conhecimentos validos e que substituíssem os questionáveis dogmas da Igreja Católica acerca do mundo físico, que era baseados, sobretudo, na metafisica aristotélica. Nessa época Galileu Galilei estabeleceu a primeira sequência de passos para a geração de conhecimentos válidos, composta pela observação, analise, indução, verificação, generalização e confirmação.

Outros filósofos, como René Descartes e Francis Bacon, também descreveram seus métodos, cada qual fundamentado em sua própria crença sobre o melhor caminho a seguir para chegar ao mesmo ponto: o conhecimento. Como a intenção não era resolver problemas, a sequência não continha etapas de aplicação do conhecimento adquirido.
Com o passar do tempo, outros filófosos acabaram influenciando a criação do PDCA para se tornar o conhecemos nos dias de hoje.

A inspiração para a criação do PDCA foi atribuida por Shewhart e Deming aos americanos Clarence Irving Lewis e John Dewey, dois dos fundadores da escola filosófica do pragmatismo. A ideia de um “circuito” foi desenvolvida por Dewey ao imaginar como funciona a relação entre ação humana e o domínio social ao qual pertence. Segundo ele a reflexão para a solução de um problema contem cinco passos lógicos:
  • Perceber a dificuldade
  • Localizar o problema
  • Definir o problema
  • Sugerir possíveis soluções e desenvolver através do raciocínio as influencias sugeridas
  • Observar posteriormente as soluções aplicadas, que levam a sua aceitação ou rejeição
Embora fossem seguidores de doutrinas racionalistas e do método científico, os pragmatista acreditam que o valor do conhecimento depende de sua contribuição como meio para a obtenção de um resultado concreto e prático para a vida. Esse estilo de pensamento incorporou na doutrina pragmática as características racionais e instrumentais.
Assim, ao contrário daqueles precursores da revolução científica, uma mudança radical aconteceu no objetivo do pensamento humano a partir do pragmatismo para que o PDCA se tornasse, não apenas um modelo para a geração de conhecimento, mas um modelo voltado fundamentalmente para a ação prática e geração de benefícios para o homem e a sociedade.

A Historia do PDCA

Nos primeiros anos do século passado, as organizações industriais já conheciam os três processos da produção em massa:
  • Especificar
  • Produzir
  • Inspecionar
Taylor já recomendava o plan-do-see (planeje, execute e veja) como referência para o planejamento das etapas básicas de um processo produtivo. Esses processos se davam numa sequência linear simples e representavam a estrutura de funcionamento das indústrias daquela época (Figura 1).










Figura 1: Conceito de controle de Taylor e os três processos de produção em massa.
Fonte - Moen e Norman (2007).





Um pouco adiante, no final da década de 30, o norte-americano Walter A. Shewhart, em sua obra intitulada Statistical Method from the Viewpoint of Quality Control propõe o modelo de produção visto como um sistema, que representa os mesmos passos, porém de forma cíclica (Figura 2). Shewhart argumenta que esses três passos devem fazer um círculo ao invés de uma linha reta, pois eles constituem um “processo científico dinâmico de aquisição de conhecimento”. Essa pequena modificação transformou o modelo de ciclo aberto para um ciclo fechado, em que os resultados obtidos numa passagem são considerados no planejamento da próxima passagem. Isso realimenta o processo e permite que ele seja aprimorado pela análise dos erros e problemas do ciclo anterior. Esse modelo, denominado ciclo de Shewhart, é levado por Deming ao Japão em 1950.




Figura 2: Ciclo de Shewhart de 1939.
Fonte - Moen e Norman (2007).






Em 1951, o ciclo de Shewhart ganhou mais dois passos passando a compreender:
  • O desenho do produto
  • Produzi-lo testando na linha de produção e no laboratório
  • Colocar no mercado
  • Testar no mercado por meio de pesquisas
  • Redesenhar o produto à luz da reação dos consumidores e continuar girando o ciclo (Figura 3).

  


Figura 3: Ciclo de Shewhart para desenvolvimento de produto.
Fonte - Moen e Norman (2007).







Shewhart percebeu que seu modelo também é aplicável para processos repetitivos de melhoria, substituindo as etapas de desenvolvimento e comercialização de produtos por atividades de planejamento e análise de melhorias, mantendo o caráter cíclico (Figura 4).




Figura 4: Ciclo de Shewhart para processos repetitivos de melhoria.
Fonte - Moen e Norman (2007).






Após sua introdução no Japão, o primeiro ciclo de Shewhart foi muito bem aceito, mas sua ideia original foi alvo de objeções. Ishikawa logo concluiu que o plan-do-see não era adequado para o povo japonês, pois ao seu ver, o significado do verbo see – ver, olhar – “[...] propicia a atitude passiva de apenas se manter em expectativa”. Moen e Norman contam uma curiosa história que teria sido relatada pelo Dr. Noriaki Kano. Segundo essa versão, Deming teria ensinado aos japoneses que o verdadeiro sentido de see não é apenas ver ou revisar, mas sim tomar uma ação, ou take action em inglês.
Como essa ideia lhes pareciam mais consistente, os japoneses rapidamente incorporaram action ao modelo, omitindo take, conforme relembra Kano em seu relato. Assim, o modelo adotado no Japão passou a ser o plan-do-check-action, que é o PDCA conhecido nos dias de hoje (Figura 5). Em português essas etapas podem ser traduzidas como planejar-executar-verificar-agir.

Figura 5: Ciclo PDCA como desenvolvido no Japão.
Fonte – Hosotani (1992)

Esse modelo passou ainda por novos desdobramentos. Na década de 80, DemingWilliam Edwards Deming (Sioux City, 14 de outubro de 1900 — Washington, 20 de dezembro de 1993) foi um estatístico, professor universitário, autor, palestrante e consultor. Sendo considerado o estrangeiro que gerou o maior impacto sobre a industria e economia japonesa do seculo XX.
Deming foi o criador do modelo plan, do, study, action – PDSA – e defendeu pela primeira vez a idéia de que o ciclo de Shewhart pode ser utilizado por qualquer pessoa na organização, não apenas em ambiente industrial, para buscar melhorias. Deming preferia o ciclo PDSA, pois ele incorporaria melhor a idéia original de Shewhart. Embora seja bastante popular nos Estados Unidos, essa idéia nunca “colou” no Japão, pois para eles o verbo study, estudar em português, é uma diretriz que não foi bem compreendida, sendo até considerada como “[...] uma ordem pouco significativa”.
Mais ou menos na mesma época, Ishikawa desdobra o PDCA em seis etapas, subdividindo o P – Plan e o D – Do em duas novas etapas cada uma. A etapa de Planejamento – P – é decomposta nas atividades de definir objetivos e metas e estabelecer os meios que possibilitarão o cumprimento da meta. Já a etapa de Execução – D – é decomposta nas atividades de efetuar educação e treinamento e realizar as tarefas. Mais recentemente no Brasil, a Fundação Nacional da Qualidade – FNQ –, vem utilizando o ciclo PDCL, que substitui a expressão A – Action, por L – Learn, que representaria melhor o conceito de aprendizado organizacional. A idéia de transformar o conhecido PDCA por PDCL, partiu da proposta elaborada por autores americanos para quem “[...] A enfase singular no controle que caracteriza a abordagem tradicional da implementação do TQM não é bem seguida em condições de alta incerteza”. Como se observa nos dias de hoje. As condições de instabilidade não possibilitariam complementar os dados para viabilizar análises e as ambiguidades presentes nos processos decisórios dificultariam uma implementação clássica do TQM. Daí, advém a proposta de substituir o TQM por TQL, que significa Total Quality Learning. As margens das novas teorias administrativas e da aprendizagem organizacional, este seria um modelo mais adequado e em condições de se ajustar melhor ao contexto competitivo e à dinâmica do ambiente do trabalho, que caracterizam os dias de hoje.



Sobre o autor, blogger e colaborador
Paulo Andrade esta no mundo virtual à algum tempo. Trabalha como Coordenador de Qualidade em Projetos na Toutatis Client Service reservando parte do seu tempo com a FOCO T&D.
É apreciador do compartilhamento de informações e conhecimentos cravadas em suas habilidades.

Um comentário:

  1. Boa parte deste texto foi copiado sem autorização.

    ORIBE, Claudemir Y. PDCA - origem, conceitos e variantes dessa ideia de 70 anos. Banas Qualidade, São Paulo: Editora EPSE, ano XVIII. n. 209, outubro 2009, p. 20-25.

    O artigo original pode ser encontrado em:

    http://www.qualypro.com.br/artigos/pdca-origem-conceitos-e-variantes-dessa-ideia-de-70-anos

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